Como você observa o comportamento das empresas em relação à saúde da mulher?
As empresas em sua grande maioria foram iniciadas por homens nos século passado. A mão de obra feminina foi incorporada nos últimos anos, de maneira que a mulher foi assumindo cargos masculinos ou novos, porém sem uma adaptação as diferenças de gêneros. Hábitos de trabalho que são naturais para um homem não o são para uma mulher. Muitas empresas tratam a mulher como se ela fosse um homem. Não menstruam, não menopausam. Como os cargos de chefia são preenchidos por muitos homens, eles não entendem como é o sofrimento da TPM, acham frescura de mulher!
Você acha justo as mulheres se ausentarem do trabalho ou mesmo ganharem um ‘atenuante’ caso comentam falhas durante a TPM?
Quando se diagnostica a TPM acho que ela deve se ausentar para buscar ajuda médica. Simplesmente faltar e ficar em casa não é certo. O que se vê é uma cultura patológica que permite que alguém falte ao trabalho porque sofre de um sintoma, mas não demonstra que fez alguma ação para resolvê-lo. A TPM tem cura e, portanto, não se justifica em caso de falhas.
E no caso de crimes?
O uso da TPM como atenuante para crimes só revela que aquela mulher, em alguma fase da vida negligenciou sua saúde. Quem sofre de TPM, sabe que sofre de TPM. Não há uma forma aguda de TPM que só apareça na hora do crime. Isso ocorre, por exemplo, na depressão pós-parto e psicose pós-parto.
Sim, conquistamos muitas coisas em nossas vidas: o direito ao voto, ao trabalho, à liberdade sexual, porém, existem três letrinhas que ainda nos derrubam: TPM!
Um estudo feito pela Unicamp e pelo Centro de Pesquisa em Saúde Reprodutiva de Campinas (Cemicamp) diz que oito em cada dez brasileiras em idade reprodutiva sofrem desse mal. E acaba sobrando para quem está por perto e é obrigado a conviver conosco nessa fase em que tudo parece um drama sem fim. E se o ambiente for o de trabalho, então... Melhor redobrar os cuidados.
Conversamos com a psicóloga Raquel Push, do Hospital Vita Curitiba, que dá algumas dicas práticas de como lidar com essa ‘crise’.
Primeiro reconheça os sintomas
A TPM, abreviação de Tensão Pré-Menstrual, ou ainda Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), surge entre uma a duas semanas antes da menstruação e desaparece no fim do fluxo menstrual. As mulheres tendem a apresentar alterações de humor, irritabilidade, choro fácil, dores de cabeça, insônia, dificuldades de concentração, inchaço, constipação (prisão de ventre), entre outros sintomas.
Encare o problema de frente
É bem verdade que nesse período ficamos com o pavio muito curto, mas o que desencadeia as crises são problemas que já estavam ali, nos incomodando muito antes. É preciso encará-los de frente, o mês inteiro, para não explodir à menor oscilação durante os dias de TPM. Está precisando perder peso? Tome uma atitude antes que o inchaço e a irritabilidade ‘daqueles dias’ te incomodem. Algo não está bem no trabalho? Aproveite pra conversar sobre o que incomoda logo que o problema aparece. Não fique acumulando pólvora... “Nada justifica qualquer grosseria com os colegas, nem mesmo a TPM. Projetar a própria dificuldade em lidar consigo mesmo é um exemplo de egoísmo, e não de sabedoria”, diz a psicóloga.
Quando procurar ajuda
Se nesses dias é realmente difícil lidar com outras pessoas, vale conversar com a chefia para trabalhar em casa e procurar ajuda médica e/ou psicológica.
“Infelizmente, a TPM se tornou uma ‘desculpa’ socialmente aceita”, lamenta Rachel. É importante ter em mente que se os sintomas se prolongam por muito tempo, inclusive após a menstruação, o problema pode ser outro. A psicóloga explica que, nesse caso, geralmente ocorre uma comorbidade, ou seja: outra enfermidade associada, como transtorno psiquiátrico, depressão, distimia, ansiedade, transtorno do pânico, transtorno bipolar, entre outras. É importantíssimo investigar a origem e a frequência dos sintomas para um controle eficaz.
Como amenizar o quadro
Existem alguns recursos para se lidar com a situação:
• Faça um ajuste na sua dieta alimentar. Aumente a quantidade de proteínas e reduza a ingestão de açúcar, sal, café e álcool.
• Exercícios físicos, quando realizados regularmente, evitam o estresse, o que colabora com a diminuição dos sintomas.
• O uso de suplementos, tais como vitamina B6, cálcio e magnésio, também ajuda, mas deve ser prescrito pelo médico.
• Seu médico também pode prescrever contraceptivos orais e antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina.
Referências: